Há quem diga que um livro velho não tenha seu valor: é chato, fedido,
sem graça. Outros ainda acham que suas histórias são distante demais,
cheiram a coisa do passado. Para provar a estes que estão errados,
fizemos uma lista com cinco livros velhos que devem sempre ser lidos.
1. Divina Comédia – Dante Alighieri
Um dos autores mais citados e, infelizmente, menos lidos no último
século, Dante construiu um sistema incrível onde tudo e todos são
julgados. Apesar do adjetivo
dantesco – que normalmente traz
consigo a imagem negativa do Inferno, a primeira das três partes da
Comédia –, ele foi capaz de criar uma narrativa em verso cheia de
imagens e conceitos, sem ser pedante e sendo profundo. Guiado por
ninguém menos que Virgílio, autor da
Eneida, pelo inferno e
depois por Beatriz, seu grande amor, o próprio autor vai do inferno ao
céu, encontrando personagens históricos – reais ou fictícios – e
conhecendo os motivos que o impediram de chegar ao empíreo, lugar
reservado àqueles selecionados por Deus. Apesar do mote aparentemente
religioso e de se passar no Inferno, Purgatório e no Céu,
Divina Comédia está mais interessada em versar sobre as angustias de um homem de seu tempo que falar propriamente em Deus.
2. Gargântua e Pantagruel – François Rabelais
Provavelmente é o livro mais engraçado e divertido saído da Idade
Média. Nesse romance o gigante Gargântua e seu filho Pantagruel
atravessam a França da época e mostram, com um senso de humor
divertidíssimo, a contraditória sociedade francesa da época. Nada nem
ninguém escaparam das aventuras dos dois gigantes: retoricistas
enfadonhos, pseudo-eruditos, a Igreja. Picaresco por excelência,
Gargântua e Pantagruel é o livro para se rir alto enquanto se lê as aventuras em que ambos se metem.
3. Hamlet – William Shakespeare
“Há algo de pobre no reino da Dinamarca”, anuncia Hamlet logo de
início na peça. Forte e vibrante, a trama de Shakespeare faz com que o
público siga as ações do hesitante enquanto muita coisa acontece. Entre
duas aparições do fantasma do rei morto e o trágico final, o autor
reinventa a
Poética de Aristóteles e chega ao auge da sua
criação no personagem-título, mostrando que Otelo, Macbeth e Rei Lear
não foram acertos inconscientes.
Hamlet continua sendo ainda
hoje a peça mais amada e estuda pela crítica (da religião à psicanálise,
passando pela política, filosofia e o feminismo – só para ficarmos nos
mais interessados). Àqueles que ainda duvidam da força de
Hamlet, lembrem que entre seus admiradores estão Machado de Assis, Herman Melville e William Faulkner.
4. Dom Quixote – Miguel de Cervantes
O que dizer do Cavaleiro da Triste Figura
e de seu fiel escudeiro Sancho Pança? Sua influência é tão grande, e
devastadora, que torna difícil pensar em toda a cultura ocidental sem as
aventuras (ou nem tanto) do
Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de la Mancha.
Ao lado das peças de Shakespeare, a grande obra de Cervantes atravessa
os séculos e continua sendo ovacionada como um marco, criando uma
estrutura altamente copiada e desenvolvida pelos séculos seguintes: o
romance moderno (ninguém nega que havia romances anteriores a ele, porém
nenhum outro foi capaz de firmar a narrativa em prosa como ele). De
Sterne a Picasso, em qualquer um dos campos da Arte,
Dom Quixote deixou sua marca enquanto ele e Sancho buscam Dulcinéia pela Espanha.
5. Os Sofrimentos do Jovem Werther – Goethe
Apesar de ter sido citado recentemente em um dos podcasts,
esse livro é parte essencial para que se compreenda todo o Romantismo –
e até a cafonice amorosa – do mundo ocidental. Não há nada,
aparentemente, que transforme o mote desse romance em algo arrebatador:
Werther ama Carlota e ela o corresponde; ela, porém, está comprometida
com outro, Alberto, e a partir daí a desgraça está anunciada.
Responsável por uma onde de suicídios na Europa depois da sua
publicação,
Os Sofrimentos do Jovem Werther apontam a
impossibilidade do amor e dão vazão ao lirismo de Goethe enquanto
escreve as cartas reunidas por um suposto Editor após o término da ação.
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