É bom ou é bomba? Críticos assistiram e avaliam o que esperar do filme da "Barbie"
Crítica
O deboche é o grande aliado de Gerwig e Baumbach para tratar não apenas do sexismo mas também da questão “corporativa”. Não será estranho se você se pegar pensando “como a Mattel deixou esse filme ver a luz o dia?”, embora seja necessário reconhecer que, no fim, isso não deixa de ser um serviço à empresa, certamente beneficiada pela imagem que tal decisão passa. Rir de si mesmo, no fim das contas, parece ser um pré-requisito para estabelecer uma comunicação com uma geração jovem de consumidores que associa seus hábitos de consumo com um olhar crítico sobre o próprio consumismo.
Em muito ajuda, claro, que Margot Robbie e Ryan Gosling se entreguem aos seus papéis com atuações carregadas de autenticidade, para além da vocação do filme para a ironia e a autorreferência. Robbie confere doçura e sinceridade a sua “Barbie estereotipada”, retratando com sensibilidade seu despertar. Gosling, por sua vez, rouba a cena; seu Ken é simultaneamente responsável por alguns dos momentos mais dramáticos e mais hilários do filme – e, nestes últimos em particular, o ator retoma um timing cômico de tirar o chapéu, como havia mostrado em filmes como Dois Caras Legais (2016).
Dentre o numeroso elenco coadjuvante do filme, Simu Liu diverte com a rivalidade que seu Ken nutre pelo de Gosling; Kate McKinnon, oriunda do Saturday Night Live, traz para sua “Barbie esquisita” um humor mais seco que cai bem em contraste com a perfeição da Barbielândia; e cabe à Glória de America Ferrera, uma das poucas humanas da história, ser o centro emocional – ela, afinal, também tem suas próprias questões sobre seu lugar no mundo e sua relação com a filha adolescente.
Dar lastro a um filme que poderia se perder na paródia de si mesmo não depende apenas de um elenco bem escolhido: o mundo cor de rosa criado pela direção de arte se faz muito palpável, e tudo ali parece distribuído e posicionado com propósito – um bem-vindo contraste no meio da epidemia de efeitos visuais turvos e indistinguíveis entre si que assola outros blockbusters. Tudo na Barbielândia remete a brinquedos muito conhecidos da boneca: as casas sem paredes, os carros pink, as escovas desproporcionais, as caixas com roupas… É um conjunto que se presta ao fan service para quem se importa com isso, e ao mesmo tempo situa muito bem o universo artificial dessa fantasia que está, a cada instante e sem descanso, esboçando um olhar analítico sobre si mesmo.
E é nessa mistura do encanto nostálgico com a inventividade e o humor que o filme cativa. A Barbie, esse ícone tão cultuado quanto criticado, não é posta em um pedestal, tampouco achincalhada; ela ganha uma história deliciosa e esperta, que a atualiza e a humaniza e, principalmente, que diverte. Parece um bom ponto de partida.
Tô ansiosa pra assistir 🥺
ResponderExcluir