Romance inacabado de José Saramago será publicado


Pílar del Rio, ex-esposa de José Saramago e presidenta da Fundação com nome do autor, acabou de anunciar na página oficial da entidade, através do editorial chamado Contra a Guerra, publicado na Revista Blimunda, que será lançado em outubro o livro  “Alabardas, alabardas, Espingardas, espingardas”, obra deixada inacabada pelo autor, falecido em 2010.

Segundo Pílar, são apenas poucos capítulos, mas o tema fica claro e representa um todo em que Saramago antecipa o andamento e o desenlace da trama que seria seguida. Talvez isso se dê pelo caráter profundamente parabólico da temática do autor.

O título Alabardas, alabardas, Espingardas, espingardas, é inspirado nos versos de Gil Vicente da tragicomédia Exortações da Guerra, que foi representada ao rei Manoel, em Lisboa, pela primeira vez em 1513. A peça tem como personagem um clérigo nigromante – aquele que evoca os mortos para predizer o futuro- com a ajuda de dois Diabos (Zebron e Danos) que convoca as figuras da Antiguidade: Policena, Pantasileia, Aquíles, Aníbal, Heitor, Cipião. A função das entidades antigas é elogiar a coragem dos portugueses incentivando-os na conquista da África. A obra, em alguns aspectos, tem um apelo à guerra contra o islamismo.

A obra de Saramago vai criticar essa “ode à violência” compondo uma narrativa que tem como protagonista o funcionário de uma fábrica de armas que vive um conflito moral decorrente de seu trabalho ou, como dirá Pilar, um homem que “descobrirá, pela força das circunstâncias, que a sua laboriosidade permite que uma engrenagem odiosa continue em movimento e a marcar os mapas e as dominações”.
Pílar escreve que Saramago se levantou contra “a violência que se exerce sobre pessoas e sociedades que não nasceram para ser vítimas mas sim donas das suas vidas”, tema que já havia sido trabalhado na sua última obra Caim.

Trata-se de mais uma obra de Saramago que se volta contra todas as violências. O autor, ao comentar a obra Avante, Soldados: Para Atrás, do brasileiro Deonísio da Silva a respeito da guerra do Paraguai, já havia feito um manifesto contra as guerras, ao afirmar que a obra “sublinha o absurdo dessa e de todas as guerras.” No fundo, a crítica de Saramago é também contra o poder, uma vez que “no fundo, a reflexão sobre o poder e a violência são o mesmo eixo. E sobre ele gira a obra de José Saramago”, conta Pilar.
O livro será publicado simultaneamente em português, italiano, espanhol e catalão, na Europa e na América, adianta a Fundação, que tem sede na Casa dos Bicos, em Lisboa.

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