#Contos de Quinta - A Mulher em Chamas

   Acordei na madrugada e meu corpo estava em chamas, sentia um calor horrível em todo meu corpo, parecia que realmente havia fogo em minha cama.
   Então levantei desesperada, mas as chamas continuavam a arder e sentia o cheiro da minha carne queimada. Tirei toda a minha roupa, fiquei completamente nua, mas as chamas ainda ardiam.
    Fiquei louca e comecei a gritar, não sabia o que fazer, meu corpo estava queimando, mas aparentemente não havia fogo algum, apenas queimava e queimava, não conseguia sentir os meus pés tocando o piso, somente sentia toda minha pele derretendo, achei que seria encontrada no dia seguinte no chão, mas não haveria corpo, mas sim, uma enorme poça de sangue, ossos e peles derretidas, pedaços de órgãos e cabelos.
    Abri a janela do meu quarto, pulei no gramado e corri pelas ruas da cidade sem uma peça de roupa. Continuei correndo e quanto mais a brisa vinha de encontro ao meu corpo as chamas ardiam cada vez mais e parecia que continuaria ardendo. 
    As ruas estavam vazias e no centro da cidade não era diferente, não consegui prestar muita atenção ao meu redor, mas consegui enxergar poucos carros estacionados em frente a algumas lojas e a praça onde as crianças costumavam brincar com seus pais.
    No meio da praça tinha um chafariz, não resisti e pulei, a água estava fria e por um instante senti que o meu corpo tinha voltado ao normal, mas ao olhar ao redor, percebi que a água estava borbulhando, entrei em desespero novamente, então aquelas chamas não eram apenas fruto da minha imaginação, algo estava errado comigo.

   O céu estava tão estrelado que as ruas do centro não precisavam de luz elétrica, levantei desesperada e sai da água fervente, mas que diabos tinha acontecido comigo? Uma mulher de vinte e seis no centro da cidade completamente nua entra em um chafariz e faz a agua ferver.

    Fiquei desorientada, sem saber o que fazer por alguns minutos, sentei em um banquinho do praça e respirei fundo, olhei ao redor para me certificar de que não havia ninguém me espiando, olhei para o céu estrelado e levantei, "calma, já passou, vai ficar tudo bem".
   Voltei correndo em direção a minha casa, desta vez consegui sentir os pés descalços tocando o asfalto, as casas pareciam ser maiores e eu me senti como uma criança correndo no meio da rua.
   No meio do caminho encontrei um homem, que devia ter uns quarenta anos, vestia uma blusa vermelha com listras pretas e carregava algumas sacolas amarelas, fiquei morrendo de vergonha, meu rosto ficou vermelho, mas o safado não tirava os olhos dos meus seios, ele ficou confuso e de boca aberta, não sabia se olhava para cima, para baixo ou se fechava os olhos, mas essa última opção não aconteceu, ao invés disso ele ficou olhando para os meus seios e me encarou.
   Então tomei coragem e perguntei "O que é? Nunca viu uma mulher pelada não?", mas ele não respondeu, parou de me encarar e dessa vez ficou olhando para as minha mãos que tentavam cobrir o máximo que conseguiam.
    Voltei para casa, vesti um pijama, fechei as janelas e peguei no sono, mas depois de tudo que tinha acontecido, não dormi bem naquela noite.
    Na manhã seguinte acordei me perguntando se aquilo realmente tinha acontecido ou se foi apenas um sonho, achei que nunca saberia a resposta.
     Levantei da cama, vesti uma blusa azul com uma calça jeans branca e fui até a padaria da esquina tomar café como era de costume, mas quem estava lá? Sentado em um banco em frente ao balcão, o homem que tinha encontrado de madrugado estava vestido com a mesma blusa vermelha com listras pretas e carregava as mesmas sacolas amarelas no colo enquanto tomava um café.
     Sentei de costas pra ele e pedi um café e uma torta de maçã, uns cinco minutos depois, senti uma mão no meu ombro.
    "Eu já te encontrei antes em algum lugar?", perguntou o homem.
    "Acho que não" respondi.
    "É, talvez tenha me engano, hoje de madrugada encontrei um mulher nua correndo pela rua, ela parecia estar muito confusa, mas que pena que não era você, achei os seios dela muito bonitos".
    Fiquei vermelha de vergonha, então ele me encarou e disse:
    "Não, tenho certeza que foi que você!"
     Ele sentou na minha mesa, tomamos café juntos e conversamos sobre a madrugada anterior, lhe contei sobre as chamas e o chafariz e ele ficou impressionado com a história, perguntei se ele realmente tinha achado os meus seios bonitos e ele afirmou novamente.
    Não voltei a me encontrar com ele, mas naquela noite eu sonhei com ele, estávamos na mesma rua, mas dessa vez era ele quem estava pelado e era eu que ficava olhando pra ele. 
André Vasconcelos

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